Mensagem do Dia


O instante mágico

É preciso correr riscos. Só entendemos direito o milagre da vida quando deixamos que o inesperado aconteça.
Todos os dias Deus nos dá – junto com o sol – um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. Todos os dias procuramos fingir que não percebemos este momento, que ele não existe, que hoje é igual à ontem – e será igual à amanhã.
Mas, quem presta atenção ao seu dia, descobre o instante mágico.
Ele pode estar escondido na hora em que enfiamos a chave na porta pela manhã, no instante de silêncio logo após o jantar, nas mil e uma coisas que nos parecem iguais. Este momento existe – um momento em que toda a força das estrelas passa por nós, e nos permite fazer milagres.
A felicidade às vezes é uma bênção – mas geralmente é uma conquista.
O instante mágico do dia nos ajuda a mudar, nos faz ir em busca de nossos sonhos. Vamos sofrer, vamos ter momentos difíceis, vamos enfrentar muitas desilusões – mas tudo é passageiro, e não deixa marcas. E, no futuro, podemos olhar para trás com orgulho e fé.
Pobre de quem teve medo de correr os riscos. Porque este talvez não se decepcione nunca, nem tenha desilusões, nem sofra como aqueles que têm um sonho a seguir.
Mas quando olhar para trás – porque sempre olhamos para trás – vai escutar seu coração dizendo:
“O que fizeste com os milagres que Deus semeou por teus dias? O que fizeste com os talentos que teu Mestre te confiou? Enterraste fundo em uma cova, porque tinhas medo de perdê-los. Então, esta é a tua herança: a certeza de que desperdiçaste tua vida”.
Pobre de quem escuta estas palavras. Porque então acreditará em milagres, mas os instantes mágicos da vida já terão passado.


O que me faz sofrer

O rabino Moshe de Sassov reuniu os seus discípulos para dizer que finalmente havia aprendido como amar seu próximo. Todos pensaram que o santo homem tivera uma revelação divina, mas Moshe negou.
- Na verdade – comentou ele – hoje de manhã eu saía de casa para algumas compras, quando vi minha vizinha, Esther, conversando com seu filho. Ela lhe perguntou:
“Você me ama?”
O filho disse que sim. Então Esther insistiu:
“Você sabe o que me faz sofrer?”
“Não tenho a menor ideia” respondeu o filho.
“Como pode me amar, se não sabe o que me faz sofrer? Procure descobrir rápido todas as coisas que me deixam infeliz, pois só assim seu amor será impecável.”
E o rabino Moshe de Sassov concluiu:
- O verdadeiro amor é aquele que consegue evitar sofrimentos desnecessários.


Escolhendo com confiança

O guerreiro da luz sempre consegue equilibrar Rigor e Misericórdia. Para atingir seu sonho, precisa de uma vontade firme – e de uma imensa  capacidade  de entrega.
Embora tenha um objetivo, nem sempre o caminho  para atingi-lo é aquele que imagina: por isso, o guerreiro usa a disciplina e a compaixão. Deus jamais abandona seus filhos – mas os desígnios da  Providência são  insondáveis.
Assim, para o guerreiro da luz, não existe nada  abstrato.  Tudo  é concreto, e tudo lhe diz respeito.
Ele não está sentado no conforto de sua tenda, observando  o que  acontece no mundo, mas aceitando cada desafio como uma oportunidade para transformar a si mesmo.
Alguns  de seus companheiros passam a vida criticando a falta de escolha, ou comentando as decisões alheias. O guerreiro, porém, transforma seu pensamento em ação.
Algumas  vezes ele erra, e paga – sem reclamar – o preço de seu erro. Outras vezes desvia-se do caminho, e perde muito  tempo  voltando ao destino original.
Mas um guerreiro não se distrai, porque sabe o que está procurando.


Adaptando-se às circunstâncias

O guerreiro da luz às vezes se comporta como água, e flui por entre os muitos obstáculos que encontra.
Em certos momentos, resistir significa ser destruído; então, ele se adapta às circunstâncias. Aceita, sem reclamar, que as pedras do caminho tracem seu rumo através das montanhas.
Nisto reside à força da água: ela jamais pode ser quebrada por um martelo, ou ferida por uma faca. A mais poderosa espada do mundo é incapaz de deixar uma cicatriz em sua superfície.
A água de um rio adapta-se ao caminho que é possível, sem esquecer do seu objetivo: o mar. Frágil em sua nascente, aos poucos vai ganhando a força dos outros rios que encontra.
E, a partir de determinado momento, seu poder é total.


Amor e combate

O guerreiro da luz às vezes luta com quem ama.
Aprendeu que o silêncio significa o equilíbrio absoluto do corpo, do espírito, e da alma.
O homem que preserva a sua unidade, jamais é dominado pelas tempestades  da existência; tem forças para ultrapassar as dificuldades e seguir adiante.
Entretanto, muitas vezes sente-se desafiado por aqueles a quem procura ensinar a arte da espada.
Seus discípulos o provocam para um combate e o guerreiro mostra sua capacidade: com alguns golpes lança as armas dos alunos por terra, e a harmonia volta ao local onde se reúnem.
“Por que fazer isto se és tão superior?”, pergunta um viajante.
“Porque, desta maneira, mantenho o diálogo”, responde o guerreiro.


O melhor produto da região

O fazendeiro conseguia ganhar todas as medalhas do Ministério da Agricultura, porque seu milho era de excelente qualidade. Intrigado, um jornalista     resolveu ir até o lugar onde ele morava, pensando em escrever uma grande matéria sobre o segredo de tamanho sucesso.
Ali chegando, perguntou o que fazia para sempre produzir o melhor produto da região.
- Muito simples – respondeu o fazendeiro. – No final da colheita, separo uma boa parte dos grãos, e distribuo entre todos os meus vizinhos.
O jornalista ficou surpreso:
- Distribuir aquilo que colheu? Será que o senhor não entende que os seus vizinhos também são seus concorrentes, e estão querendo produzir mais?
- Será que o senhor não compreende que tudo é uma coisa só? Na primavera, o vento traz o pólen, e espalha por todo o lugar. Se meus vizinhos plantarem algo ruim, minha colheita será também afetada. Para ter o melhor produto da região, preciso fazer com que os campos ao lado mantenham a mesma qualidade.
“Não posso fazer nada de bom na vida, se não estimular os outros a fazerem o mesmo”.


Restaurando a teia

Em New York, vou tomar chá no final da tarde com uma artista bastante incomum. Ela trabalha num banco em Wall Street, mas certo dia teve um sonho: precisava ir a doze lugares do mundo, e em cada um destes lugares, fazer um trabalho de pintura e escultura na própria natureza.
Por enquanto, já conseguiu realizar quatro destes trabalhos. Ela me mostra as fotos de um deles: um índio esculpido em uma caverna na Califórnia. Enquanto aguarda os sinais através dos sonhos, continua trabalhando no banco – assim consegue dinheiro para viajar e realizar sua tarefa.
Pergunto por que faz isto.
- Para manter o mundo em equilíbrio – responde. -  Pode parecer bobagem, mas existe alguma coisa tênue, unindo todos nós, e que podemos melhorar ou piorar à medida que vamos agindo.  Podemos salvar ou destruir muita coisa com um simples gesto que às vezes parece absolutamente inútil.
“Pode até ser que meus sonhos sejam bobagem, mas não quero correr o risco de não seguí-los: para mim, as relações entre os homens são iguais a uma imensa e frágil teia de aranha. Com meu trabalho, estou tentando remendar alguma parte desta teia”.


Onde passar a noite

O famoso místico Ibrahim Adham entrou certa vez no palácio do governante local. Como era muito conhecido na região, nenhum guarda ousou detê-lo, e conseguiu chegar à presença do soberano.
“Gostaria de passar a noite aqui”, disse.
“Mas isso não é um hotel”, respondeu o rei.
“Posso perguntar quem era o dono deste palácio antes do senhor?”
“Meu pai. Ele está morto.”
“E quem era o dono, antes do seu pai?”
“Meu avô. Ele também está morto.”
“Então este é um lugar onde as pessoas ficam um pouco, e depois vão embora. Não é a mesma coisa que um hotel?”
Respeitando a coragem e a sabedoria de Ibrahim Adham, o rei permitiu que  ficasse hospedado ali o tempo que quisesse.


O direito da escolha

O Dr. Victor Frankl, sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, escreveu no seu diário:
“Aqueles que viveram nestes lugares de morte conseguem ainda se lembrar que, durante a noite, alguns dos que estavam ali iam de barraca em barraca, confortando os mais desesperados, e muitas vezes oferecendo um pedaço de pão ou de batata que havia sobrado.
“Poucos eram capazes de agir assim, mas estes poucos davam a todos a maior das lições: pode-se tirar quase tudo de um homem, menos sua liberdade de escolher -  não importa em que circunstâncias – a maneira  como acham que devem agir”.


O lábio selado

O discípulo do rabino Nachman de Bratzlava procurou-o:
“Não consigo conversar com Deus”.
“Isto acontece com frequência”, comentou Nachman. “Sentimos que a boca está selada, ou que as palavras não aparecem. No entanto, o simples fato de fazer um esforço para superar situação, já é uma atitude benéfica”.
“Mas não é o suficiente”, insistiu o discípulo.
“Tem razão. Nestas horas, o que se deve fazer é virar-se para o alto e dizer: ‘Meu Deus, estou tão longe de Ti que não consigo nem acreditar na minha voz’”.
“Porque, na verdade, Deus escuta e responde sempre. Somos nós que não conseguimos falar, com medo que Ele não preste atenção”.


Na busca da verdade

O demônio conversava com seus amigos, quando notaram um homem caminhando por uma estrada. Acompanharam seu trajeto com os olhos, e viram que ele abaixou-se para pegar algo no chão.
“O que ele encontrou?”, perguntou um dos amigos.
“Um pedaço da verdade”, respondeu o demônio.
Os amigos ficaram preocupadíssimos. Afinal de contas, um pedaço da verdade poderia salvar a alma daquele homem – e seria menos um no inferno. Mas o demônio continuava imperturbável, olhando a paisagem.
“Você não se preocupa?”, disse um dos seus companheiros. “Ele achou um pedaço da verdade!”
“Não me preocupo”, respondeu o demônio. “Sabe o que ele fará com este pedaço? Como sempre, vai criar uma nova religião. E conseguirá afastar mais pessoas da verdade total”.


A árvore dos problemas

O carpinteiro terminou mais um dia de trabalho. Como era final de semana, e resolveu convidar um amigo para beber algo em sua casa.
Ao chegar, antes de entrarem, o carpinteiro parou por alguns minutos, em silêncio, diante de uma árvore que ficava no seu jardim. Em seguida, tocou seus ramos com ambas as mãos.
Imediatamente seu rosto mudou. Entrou em casa sorrindo, foi recebido pela mulher e filhos, contou histórias, e saiu para beber com o amigo, na varanda.
Dali podiam ver a árvore. Sem conseguir controlar sua curiosidade, o amigo perguntou o que fizera antes.
- Ah, esta é a árvore dos meus problemas – respondeu. – Sei que não posso evitar ter aborrecimentos no meu trabalho, mas estas preocupações são minhas, e não pertencem a minha esposa, nem aos meus filhos.
“Assim, quando chego aqui, penduro meus problemas nos ramos daquela árvore. No dia seguinte, antes de sair para o trabalho, eu os recolho de novo”.
“O mais curioso, porém, é que quando saio de manhã e vou procurá-los, alguns já não estão mais ali, e outros parecem bem menos pesados do que na noite anterior”.


Do tempo

Regina Azevedo escreve na revista “Planeta”:
“Muita energia é gasta em torno do que não vai dar certo. Generalizamos experiências ruins do passado como se fossem nossas únicas lembranças, eliminamos as coisas boas, distorcemos os momentos de felicidade – geralmente associando-os com as coisas terríveis que virão depois”.
“Não vivemos o presente. Somos uns bons estudantes, para sermos bons profissionais… no futuro. Somos bons filhos, para sermos bons pais… no futuro”.
“Ao emprestar dinheiro, sempre temos o cuidado de saber se nos podem pagar de volta. Então, porque emprestamos o nosso tempo a coisas sem importância, sabendo que estes momentos jamais nos serão devolvidos?”


As duas listas

No dia do Perdão (Yom Kyppur), o rabino Elimelekh de Lsensk levou seus discípulos até a oficina de um pedreiro.
“Reparem o comportamento deste homem”, disse. “Porque ele consegue entender-se bem com Deus”.
Sem notar que estava sendo observado, o pedreiro terminou seus afazeres e foi para a janela. Tirou um pedaço de papel do bolso, e levantou-o para o céu, dizendo: “Senhor, nesta folha escrevi a lista de meus pecados. Eu errei, e não tenho porque esconder que Te ofendi várias vezes. Eis aqui a lista de tudo que fiz de errado”.
O pedreiro enfiou de novo a mão no bolso, e tirou outra folha de papel, levantando-a também para o céu: “Entretanto, aqui está a lista dos Teus pecados para comigo, Senhor. Exigiste de mim além do necessário, me fizeste viver alguns dias muito difíceis, e me fizeste sofrer. Se compararmos as duas listas, o Senhor está em débito para comigo. Mas como hoje é o Dia do Perdão, Tu me perdoas, eu Te perdoo, e continuaremos juntos o nosso caminho, livre de culpas”.


O que alegra a Deus

No dia da “Alegria da Torah”, os alunos de Ball-Shem festejavam, bebendo o vinho do mestre. A mulher do rabino reclamou:
“Se tomarem o vinho, não restará nada para a santificação”, disse ela.
“Acabe com a festa”, respondeu o rabino.
A mulher foi até a sala onde os alunos bebiam. Mas assim que abriu a porta, mudou de ideia e voltou ao marido.
“Por que não fizeste nada?”, perguntou Baal-Shem.
“Porque dançavam, cantavam, e se alegravam com a vida”, respondeu a mulher. “Não tive coragem”.
“Você entendeu tudo: é desta maneira que Deus recebe a gratidão do seu povo – vendo que estão contentes. Vá até lá e sirva mais vinho aos meus discípulos”, concluiu o rabino.


Igual ao casamento

Nadia passou o outono inteiro semeando e preparando seu jardim. As flores se abriram na primavera, e Nadia reparou alguns dentes-de-leão, que não havia plantado.
Nadia arrancou-os. Mas o pólen já estava espalhado, e outros tornaram a crescer.
Ela procurou um veneno que atingisse apenas os dentes-de-leão. Um técnico disse-lhe que qualquer veneno ia terminar matando as outras flores.
Desesperada, pediu ajuda a um jardineiro.
“É igual ao casamento”, comentou o jardineiro. “Junto com coisas boas, terminam sempre vindo algumas poucas inconveniências”.
“Que faço?”
“Nada. Mesmo sendo flores que você não planejou ter, fazem parte do jardim”.


Quando dar e quando receber

Nasrudin passeava pelo mercado, quando um homem se aproximou.
- Sei que és um grande mestre sufi – disse. – Hoje de manhã, meu filho me pediu dinheiro para comprar uma vaca. Devo ajudá-lo?
- Esta não é uma situação de emergência. Então, aguarde mais uma semana antes de atender o seu filho.
- Mas tenho condições de ajudá-lo agora. Que diferença  fará esperar uma semana?
- Uma diferença muito grande – respondeu Nasrudin. – A minha experiência mostra que as pessoas só dão valor a algo,  quando têm a oportunidade de duvidar se irão ou não conseguir o que desejam.


Sobre as maneiras de rezar

O arcebispo Macarius afirma, em um de seus escritos, que as portas do Céu estão abertas para quem usar a oração. Entretanto, nem sempre valorizamos este poderoso instrumento de comunicação com Deus, por considerá-lo simples ou – paradoxalmente – complicado demais. Vale lembrar que na Bíblia, em II Reis (capítulo 20), um poderoso exemplo da força da oração é citado.
O profeta Isaias vai até a casa de Ezequias, e anuncia: “põe em ordem tua casa, porque vais morrer”.
Ezequias, desesperado, volta-se contra a parede, e clama ao Senhor: “Andei fielmente diante de Ti, fazendo o que era agradável a Teus olhos!“ E chora.
Antes que Isaias deixe o pátio interno, o Senhor dirige-se de novo a ele: “Volta e diz a Ezequias, meu servo; eis que escutei tua prece e vi tuas lágrimas. Vou te curar, e acrescentarei quinze anos à tua vida”.


Convencendo os outros

Um profeta chegou certa vez a uma cidade para converter seus habitantes.
A princípio, as pessoas ficaram entusiasmadas com o que ouviam. Mas – pouco a pouco – a rotina da vida espiritual era tão difícil, que homens e mulheres se afastaram, até que não ficou uma só alma para ouvi-lo.
Um viajante, ao ver o profeta pregando sozinho, perguntou:
— Por que continuas exaltando as virtudes e condenando os vícios? Não vês que ninguém aqui te escuta?
— No começo, eu esperava transformar as pessoas – disse o profeta. — Se ainda hoje continuo pregando, é apenas para impedir que as pessoas me transformem.


Os visitantes indesejáveis

- Não temos portões em nosso mosteiro – Shantih comentou com o visitante.
- E como fazem com os ladrões?
- Não há nada de valioso aqui dentro. Se houvesse, já teríamos dado a quem precisa.
- E as pessoas inoportunas, que vem perturbar a paz de vocês?
- Nós as ignoramos, e elas vão embora – disse Shantih.
- Só isto? E isto dá resultado?
Shantih não respondeu. O visitante insistiu  algumas vezes. Vendo que não obtinha resposta, resolveu partir.
“Viu como funciona?” disse Shantih para si mesmo, sorrindo.


Também estou lá fora

Na parábola do Filho Pródigo, o irmão que sempre obedeceu ao pai fica indignado ao ver que o filho rebelde é recebido com festa e alegria.
Da mesma maneira, muitas pessoas obedientes à palavra do Senhor, terminam se transformando em carrascos impiedosos daqueles que algum dia se afastaram da lei.
Na pequena cidade do interior, um conhecido pecador foi impedido de entrar na igreja. Indignado, começou a rezar:
“Jesus me escuta. Não querem me deixar entrar em sua casa, porque acham que não sou digno”.
“Não se preocupe, meu filho”, respondeu Jesus. “Eu também estou do lado de fora, junto com aqueles com quem sempre estive – os pecadores como você”.


Voz interior

Na maior parte das vezes, confundida com “inspiração”, o que é um equívoco. Estamos sempre escutando certas vozes interiores, ruídos destinados a nos distrair, a nos fazer perder o contato com a vida. Não se calam, não sossegam nunca. Certas tradições mágicas dizem que nosso controle sobre estas vozes é quase nenhum.
Quem já experimentou meditação sabe o quanto isto é verdade; e mesmo quem nunca meditou sabe que elas existem (músicas que cantamos mentalmente, pensamentos que não conseguimos evitar, etc.) Só uma coisa faz calar estas vozes: o entusiasmo. Quando estamos verdadeiramente envolvidos na arte de viver, estas pequenas e mesquinhas vozes interiores deixam de falar suas bobagens – e então podemos ouvir a voz de nosso anjo da guarda, a voz de nosso coração, a voz de Deus


Movimentando a sombra

Myiamoto Musashi, o célebre samurai que escreveu “O livro dos cinco anéis”, fala da estratégia para se compreender o espírito e as qualidades do inimigo.
Segundo ele, quando não conseguimos saber o que nosso adversário pretende, devemos fingir um ataque. Todas as pessoas do mundo estão sempre preparadas para se defender, porque vivem no medo e na paranóia de que os outros não gostam dela.
Desta maneira, também nosso adversário – por mais brilhante que seja – é inseguro e reage com violência exagerada à provocação. Ao fazer isso, mostra todas as armas que tem, e ficamos sabendo onde está forte, e quais são os seus pontos fracos.
Musashi chama esta técnica de “movimentar a sombra”. Na verdade, o guerreiro da luz não entra no combate, mas provoca um pouco, e a sombra de sua provocação confunde o adversário.
Então, sabendo exatamente que tipo de confronto deve esperar o guerreiro da luz ataca ou recua.

O empregado inteligente

Na época em uma base aérea na África, o escritor Saint-Exupéry fez uma coleta com seus amigos, pois um empregado marroquino queria voltar à cidade natal. Conseguiu juntar mil francos.
Um dos pilotos transportou o empregado até Casablanca, e voltou contando o que aconteceu:
“Assim que chegou, foi jantar no melhor restaurante, distribuiu generosas gorjetas, pagou bebidas para todos, comprou bonecas para as crianças de sua aldeia. Este homem não tinha o melhor sentido de economia”.
“Ao contrário”, respondeu Saint-Exupéry. “Ele sabia que o melhor investimento do mundo são as pessoas. Gastando assim, conseguiu de novo ganhar o respeito de seus conterrâneos, que terminarão por lhe dar emprego. Afinal de contas, só um vencedor pode ser tão generoso”.


Dos diálogos

Um guerreiro, de vez em quando, fala sozinho. Mas não fica o tempo todo prestando atenção a si mesmo.
Uma coisa é escutar seu coração. Outra coisa é ficar só conversando consigo mesmo, sem prestar atenção aos outros. Se agir assim, não conseguirá dormir direito, e perderá o prazer dos momentos importantes do dia.
Dentro de cada um de nós existe um anjo e um demônio, e suas vozes são muito parecidas.  Diante de uma dificuldade, o demônio alimenta esta conversa, procurando nos mostrar como somos fracos e injustiçados. O anjo nos faz refletir sobre nossas atitudes, e ajuda a  encontrar o melhor caminho.
Um guerreiro está sempre atento a estes detalhes, e não se deixa enganar.


Evitando ajudar o demônio

- Muitas vezes somos instrumentos do mal, quando tentamos praticar o bem – disse Al-Fahid a seu amigo.
- Procuro estar sempre alerta, mas hoje fui usado pelo demônio.
- Como? Você tem fama de sábio!
- Esta manhã fui fazer as preces na mesquita. Respeitando a tradição, tirei os sapatos antes de entrar; na saída reparei que haviam sido roubados: terminei por criar um ladrão.
- Mas não é sua culpa – disse o amigo.
- É minha culpa. É fácil despertar o lado mau de nosso próximo. É fácil irritar alguém, semear a discórdia, levantar dúvidas, separar irmãos. O demônio precisa do homem para realizar seus atos – e por isso sou responsável.


Tentando controlar a alma

Muitas vezes achamos que podemos controlar o amor. E, neste momento, nos surpreendemos fazendo uma pergunta complemente inútil: “será que vale mesmo a pena?”
O amor não respeita esta pergunta. O amor não se deixa avaliar como uma mercadoria. Um dos personagens da peça “A Boa Alma de Setzuan”, de Bertold Brecht, nos fala da verdadeira entrega:
“Quero estar junto da pessoa que amo.
Não quero saber quanto isto vai me custar.
Não quero saber se isto vai ser bom ou ruim para minha vida.
Não quero saber se esta pessoa me ama ou não.
Tudo que preciso, tudo que quero, é estar perto da pessoa que amo”.


A generosidade

Muhammad ib Sugah conta a história de Abdulah e Mansur, dois fiéis muçulmanos.
Certo dia, Abdulah pediu ajuda ao amigo. O tempo foi passando, e nenhuma ajuda foi dada. Um dia, Mansur perguntou: “meu irmão, você me pediu ajuda, e eu não fiz nada. No entanto, você parece não ter se irritado com isto”.
“Temos uma longa amizade. Aprendi a amar-te antes de precisar de um favor. E consigo continuar te amando, não importa se tu me atendes ou não”.
Mansur respondeu: “eu não fiz o que pediste, porque queria saber a força de teu desejo. Vi que esta força é maior do que a discórdia e o ódio; amanhã você terá o que pediu”.


Quando Deus não nos ajudou

Mestre e discípulo caminham pelos desertos da Arábia. O mestre aproveita cada momento da viagem para ensinar ao discípulo sobre a fé.
“Confie suas coisas a Deus”, dizia. “Porque Ele jamais abandona seus filhos”.
De noite, ao acamparem, o mestre pediu que o discípulo amarrasse os cavalos numa rocha próxima. O discípulo foi até a rocha, mas se lembrou do que aprendera durante aquela tarde.
“O mestre deve estar me testando. Na verdade, devo confiar os cavalos a Deus”. E deixou os cavalos soltos.
De manhã, descobriu que os animais haviam fugido. Revoltado, procurou o mestre.
“O senhor não entende nada sobre Deus! Ontem, aprendi que devia confiar cegamente na providência, entreguei a Ele a guarda dos cavalos, e os animais desapareceram!”
“Deus queria cuidar dos cavalos”, respondeu o Mestre. “Mas, naquele momento, Ele precisava de suas mãos para amarrá-los, e você não as emprestou”.

Decidindo o destino alheio

Malba Tahan conta a história de um homem que encontrou um anjo no deserto, e lhe deu água.
“Sou o anjo da morte e vim buscá-lo”, disse o anjo. “Mas como você foi bom, vou lhe emprestar o ‘Livro do destino’ por cinco minutos; você pode alterar o que quiser”.
O anjo entregou o livro. Ao folhear suas páginas, o homem foi lendo a vida dos seus vizinhos. Ficou descontente: “estas pessoas não merecem coisas tão boas”, pensou. De caneta em punho, começou piorar a vida de cada um.
Finalmente, chegou na página de seu destino. Viu seu final trágico, mas quando preparava-se para mudá-lo, o livro sumiu. Já se tinham passado cinco minutos.
E o anjo, ali mesmo, levou a alma do homem.


Nos passos de Gandhi

Mahatma Gandhi lutou sua vida inteira, mas conseguiu libertar a Índia do domínio inglês. Quando lhe disseram que era um dos maiores nomes jamais surgidos na História Universal, respondeu:
“Nada tenho de novo para ensinar ao mundo. A verdade e a não violência são tão antigas quanto às montanhas. Tudo o que tenho feito é tentar praticá-las na escala mais vasta que me é possível. Assim fazendo, errei algumas vezes e aprendi com meus erros.
“Os que acreditam nas verdades simples que procurei mostrar, só podem divulgá-las se viverem de acordo com elas. Estou absolutamente convencido de que qualquer homem ou mulher pode realizar o que realizei, se fizer o mesmo esforço e cultivar a mesma esperança e fé.”


Mover-se é viver

Estou numa festa de São João, com barraquinhas, tiro ao alvo, comida caseira. A única coisa curiosa é que, de determinado ângulo da rua de casas de dois andares, podemos ver os edifícios mais altos do mundo; a festa do interior está acontecendo em plena Nova York.
De repente, um palhaço começa a imitar todos os meus gestos. As pessoas riem, e eu também me divirto. No final, convido-o para tomar um café.
“Comprometa-se com a vida”, diz o palhaço. “Se você está vivo, você tem que sacudir os braços, pular, fazer barulho, rir e falar com as pessoas, porque a vida é exatamente o oposto da morte”.
“Morrer é ficar sempre na mesma posição. Se você está muito quieto, você não esta vivendo”.


Da Bíblia

Quando Moisés subiu aos céus para escrever determinada parte da Bíblia, o Todo Poderoso pediu para que desenhasse pequenas coroas em cima de algumas letras da Tora.
Moisés disse:
- Criador do Universo, por que colocar estas coroas?
-Porque daqui a cem gerações, um homem chamado Akiva irá interpretar o verdadeiro significado destes desenhos.
- Mostre-me a interpretação deste homem – pediu Moisés.
O Senhor levou Moisés ao futuro, e colocou-o numa das aulas do rabino Akiva.  Um aluno perguntava:
- Rabino, por que estas coroas desenhadas em cima de algumas letras?
- Não sei – respondeu Akiva. – E acredito que nem Moisés sabia. Mas como ele era o maior de todos os profetas, fez isto apenas para nos ensinar que, mesmo sem compreender tudo que o Senhor faz, ainda assim devemos fazer o que nos pede.
E Moisés pediu perdão ao Senhor.


O que salva o amor

L. Barbosa conta a história de uma ilha onde viviam os principais sentimentos do homem: Alegria, Tristeza, Vaidade, Sabedoria, e Amor.  Um dia, a ilha começou a afundar no oceano; todos conseguiram alcançar seus barcos, menos o Amor.
Quando foi pedir a Riqueza que o salvasse, esta disse:
- Não posso, estou carregada de jóias e ouro.
Dirigiu-se ao barco da Vaidade, que respondeu:
- Sinto muito, mas não quero sujar meu barco.
O Amor correu para a Sabedoria, mas ela também recusou, dizendo:
- Quero estar sozinha, estou refletindo sobre a tragédia, e mais tarde vou escrever um livro sobre isto.
O Amor começou a se afogar. Quando estava quase morrendo, apareceu um barco – conduzido por um velho – que o terminou salvando.
- Obrigado – disse, assim que se refez do susto. – Mas quem é você?
- Sou o Tempo – respondeu o velho. Só o Tempo é capaz de salvar o Amor.


Em busca da maldade

Khrisna resolveu testar a sabedoria de seus súditos.
Convocou Duryodhana, um rei conhecido por sua crueldade, e pediu que encontrasse um homem bom em seu reino. Duryodhana viajou durante um ano, e voltou à presença de Khrisna, dizendo:
“Busquei um homem bom, e não encontrei. São todos egoístas e malvados”.
Khrisna chamou o rei Dhammaraja, considerado um homem santo. Pediu que percorresse seu reino em busca de um homem malvado. Dhammaraja viajou durante dois anos, e voltou a Khrisna, dizendo:
“Perdoe-me, mas não encontrei ninguém mau. Todos têm um lado bom, apesar dos defeitos”.
Então Khrisna comentou com os outros deuses: “Viram? O mundo é um espelho, e devolve a todos os reflexos do próprio rosto”.


Os sinais de Deus

Isabelita me conta a seguinte lenda:
Um velho árabe analfabeto orava com tanto fervor, todas as noites, que o rico chefe de grande caravana resolveu chamá-lo:
- Por que oras com tanta fé? Como sabes que Deus existe, quando nem ao menos sabes ler?
- Sei ler, sim senhor. Leio tudo que o Grande Pai Celeste escreve.
- Como assim?
O servo humilde explicou-se:
- Quando o senhor recebe uma carta de pessoa ausente, como reconhece quem a escreveu?
- Pela letra.
- Quando o senhor recebe uma jóia, como sabe quem a fez?
- Pela marca do ourives.
- Quando ouve passos de animais, ao redor da tenda, como sabe se foi um carneiro, um cavalo um boi?
- Pelos rastros – respondeu o chefe, surpreendido com aquele questionário.
O velho crente convidou-o para fora da barraca e mostrou-lhe o céu.
- Senhor, aquelas coisas escritas lá em cima, este deserto aqui em baixo, nada disso pode ter sido desenhado ou escrito pelas mãos dos homens.

Reflexões sobre Jó

No texto “Lenin desce aos infernos” procurava fazer uma análise bem-humorada dos diálogos entre o demônio e os céus.
Por mais incrível que pareça, estes diálogos aparecem muitas vezes na Bíblia.
O “Livro de Jó”, por exemplo, começa com uma surpreendente visita de Satanás a Deus. Mais surpreendente ainda, é que Satanás o instiga a castigar o seu servo mais fiel. Para surpresa total, Deus faz isso.
O “Livro de Jó” é uma verdadeira obra prima.
Depois de ter sido privado de todos os seus bens materiais e afetivos, Jó revolta-se e começa a clamar contra a injustiça que está sofrendo. Na verdade, o pobre homem sempre procurou fazer o melhor possível, e agora vê-se diante daquele Poder imenso, que o está punindo justamente por isso.
Todos nós, em algum momento de nossas vidas, já nos vimos diante da mesma situação, mas ao invés de reclamar contra Deus – que, na minha interpretação, espera que ajamos assim – terminamos voltando nossas baterias contra nós mesmos. Achamos que não merecemos, que não somos dignos, etc. Enfim, nosso complexo de culpa é sempre maior que nossa capacidade de reagir.
Em toda família normal é importante que os filhos encontrem sua voz através de uma rebelião saudável. Em nossa relação espiritual é bom saber que, às vezes, temos o direito de reclamar na hora certa – e seremos ouvidos.
Ainda bem que Jó nos dá um bom exemplo.

O vaso com rachaduras

Conta a lenda indiana que um homem transportava água todos os dias para a sua aldeia, usando dois grandes vasos que prendia nas extremidades de um pedaço de madeira, e colocava atravessado nas costas.
Um dos vasos era mais velho que o outro, e tinha pequenas rachaduras; cada vez que o homem percorria o caminho até sua casa, metade da água se perdia.
Durante dois anos o homem fez o mesmo percurso. O vaso mais jovem estava sempre muito orgulhoso de seu desempenho, e tinha certeza que estava à altura da missão para o qual tinha sido criado, enquanto o outro vaso morria de vergonha por cumprir apenas a metade de sua tarefa, mesmo sabendo que aquelas rachaduras eram fruto de muito tempo de trabalho.
Estava tão envergonhado que um dia, enquanto o homem se preparava para pegar água no poço, decidiu conversar com ele:
- Quero pedir desculpas, já que devido ao meu tempo de uso, você só consegue entregar metade da minha carga, e saciar a metade da sede que espera em sua casa.
O homem sorriu, e lhe disse:
- Quando voltarmos, por favor, olhe cuidadosamente o caminho.
Assim foi feito. E o vaso notou que, do seu lado, cresciam muitas flores e plantas.
- Vê como a natureza é mais bela do seu lado? – comentou o homem. – Sempre soube que você tinha rachaduras, e resolvi aproveitar-me deste fato. Semeei hortaliças, flores e legumes, e você as tem regado sempre. Já recolhi muitas rosas para decorar minha casa, alimentei meus filhos com alface, couve e cebolas. Se você não fosse como é, como poderia ter feito isso?
“Todos nós, em algum momento, envelhecemos e passamos a ter outras qualidades. É sempre possível aproveitar cada uma destas novas qualidades para obter um bom resultado”.

Entre a fé e a oração

- Há algo mais importante que a oração? – perguntou o discípulo ao mestre.
O mestre pediu ao discípulo que fosse até um arbusto próximo e cortasse um ramo.
- A árvore continua viva? – perguntou o mestre.
- Tão viva como antes.
- Então vá até lá e corte a raiz.
- Se eu fizer isto, a árvore morrerá.
- As orações são os ramos de uma árvore, cuja raiz se chama Fé.
- Pode existir fé sem oração, mas não pode existir oração sem fé.

Reflexão XI

Fragmento de um poema de Facundo Cabra:
“E me chamas estrangeiro, porque cheguei aqui por um caminho que não conhecias, porque nasci em outra cidade, e conheci outros mares.
Chamas-me estrangeiro porque não estás acostumado comigo, já que eu zarpei de um porto distante, e tu pensas que as despedidas existem apenas para que se agitem lenços e se encham de lágrimas os olhos, e acreditas que, quando se vai para longe, todos pensam apenas no dia do regresso, e nas orações que os entes queridos ficam repetindo, dia após dia, anos a fio.
Mas eu não sou estrangeiro. Porque despertei em minha alma o que antes não conhecia, e descobri que todos os homens são iguais, que houve uma época em que o mundo não tinha fronteiras.
Todos nós trazemos o mesmo grito, as mesmas perguntas, o mesmo cansaço das viagens muito longas.
Os que dividem, os que dominam, os que roubam, os que mentem, os que compram e vendem nossos sonhos, são eles que inventaram esta palavra: Estrangeiro.
Olha-me no fundo de meus olhos, além do teu ódio, do teu egoísmo, do teu medo, e verás que sou apenas um homem, que precisa de tua ajuda.
Não posso ser, nunca fui um Estrangeiro”.

Olhando o outro lado

Fan Chi passeava com Confúcio pelo terraço dos Dançadores da Chuva. Lá embaixo, os jovens ensaiavam a coreografia do novo ballet.
“Veja a harmonia de seus movimentos”, comentou o mestre. “Exaltam a virtude, descobrem o segredo do mal, e identificam a confusão”.
“Pois a dança me parece algo superficial” respondeu Fan Chi. “Não acharia melhor que estivessem dedicando seu tempo a meditar?”
E Confúcio comentou:
“Excelente questão! Se acreditarmos que existe apenas um caminho para a sabedoria, em breve estaremos exaustos e sem entusiasmo. Seja na meditação, na dança, na jardinagem, ou mesmo na fabricação de vinho, qualquer pessoa que colocar o esforço na frente da recompensa, exalta a virtude. À medida que se aperfeiçoa, enfrenta-se com o que há de ruim em si mesmo, e descobre os segredos do mal. Finalmente, quando está diante de um obstáculo, é capaz de identificá-lo antes que ele lhe cause problemas, e assim jamais deixa-se confundir.”

Sobre o ritmo e o Caminho

- Faltou algo em sua palestra sobre o Caminho de Santiago – me diz uma peregrina, assim que saímos da Casa de Galicia, em Madrid, onde minutos antes eu acabara de dar uma conferência.
Deve ter faltado muita coisa, pois minha intenção ali era de apenas compartilhar um pouco minha experiência. Mesmo assim, convido-a para tomar um café, curioso em saber o que ela considera como uma omissão importante.
E Begoña – este é seu nome – me diz:
- Tenho notado que a maioria dos peregrinos seja no Caminho de Santiago, seja nos caminhos da vida, sempre procura seguir o ritmo dos outros.
“No início de minha peregrinação, procurava ir junto com meu grupo. Me cansava, exigia de meu corpo mais do que podia dar, vivia tensa, e terminei tendo problemas nos tendões do pé esquerdo. Impossibilitada de andar por dois dias, entendi que só conseguiria chegar a Santiago se obedecesse meu ritmo pessoal.”
“Demorei mais que os outros, tive que andar sozinha por muitos trechos, mas foi só porque respeitei meu próprio ritmo que consegui completar o caminho. Desde então aplico isso a tudo que preciso fazer na vida: respeito o meu tempo”.

A atenção consciente

Faça com que cada dia seja realmente novo, vestindo-se com as bênçãos do Paraíso, banhando-se em sabedoria e amor, e colocando-se sob a proteção da Mãe Natureza.
Aprenda dos sábios, dos livros sagrados, mas não esqueça que cada montanha, rio, planta, ou árvore, também tem algo para lhe ensinar.

Os dois deuses

Existem dois deuses.
O deus que nossos professores nos ensinaram, e o Deus que nos ensina.
O deus sobre o qual as pessoas costumam conversar, e o Deus que conversa conosco.
O Deus que aprendemos a temer, e o Deus que nos fala de misericórdia.
O Deus que está nas alturas, e o Deus que participa de nossa vida diária.
O Deus que nos cobra, e o Deus que perdoa nossas dívidas.
O Deus que nos ameaça com os castigos do inferno, e o Deus que nos mostra o melhor caminho.
Existem dois deuses.
Um deus que nos afasta por nossas culpas, e um Deus que nos chama com Seu amor.

A história das duas rãs

Existem certas horas em que a paciência – por mais difícil que seja – é a única maneira de suportar determinados problemas. A famosa história a seguir ilustra bem a virtude de saber esperar:
Duas rãs caíram dentro de uma jarra de leite. Uma era grande e forte, mas impaciente – e confiando na sua forma física, lutou a noite inteira, debatendo-se para escapar.
A outra rã era pequena e frágil. Como sabia que não teria energia para lutar contra seu destino, resolveu entregar-se. Com suas patas, fez apenas os movimentos necessários para manter-se na superfície, sabendo que cedo ou tarde iria morrer.
“Quando não se pode fazer nada, nada se deve fazer” pensava ela.
E assim as duas passaram a noite – uma na tentativa desesperada de salvar-se, a outra aceitando com tranqüilidade à idéia da morte.
Exausta com o esforço, a rã maior não agüentou e morreu afogada. A outra rã conseguiu boiar a noite inteira – e quando, na manhã seguinte, resolveu entregar-se, reparou que os movimentos de sua companheira haviam transformado o leite em manteiga.
Tudo o que teve de fazer foi pular para fora da jarra.

Reflexão de Morris West

“Todo homem, ao nascer, tem sempre uma conta a pagar – porque recebeu um bem, chamado Vida, que precisa ser honrado.
Ninguém pode liquidar seu débito de uma vez só, portanto o que fazemos é abrir um crédito – com juros.
Podemos ficar um mês ou outro sem fazer o depósito, mas isso sempre nos deixa infelizes.
“Como pagamos esta conta? Vivendo intensamente. Só isso”.

Brevíssima história da medicina

500 D.C. – Venha até aqui, e coma esta raiz.
1.000 D.C. – Esta raiz é coisa de ateu, faça esta oração ao Deus que está no céu.
1.792 D.C. – O Deus não está no céu, quem reina é a razão. Venha até aqui, e beba esta poção.
1.917 D.C – Esta poção é para enganar o oprimido, sugiro que você tome este comprimido.
1.960 D.C. – Este comprimido é antigo e exótico. Chegou o momento de tomar antibiótico.
1.998 D.C. – Antibiótico te deixa fraco e infeliz. Eis um novo tratamento: coma esta raiz.

Sincronicidade

Eu sabia que o músico e compositor Wagner Tyso estava em Madri, queria me encontrar com ele, mas parecia impossível.
Eu deixava recado na secretária eletrônica, ele deixava recado no meu hotel, e nunca conseguíamos nos falar.
Um belo dia precisei ir à França de carro. Na volta, cansado de dirigir durante mais de oito horas, parei num bar perdido na estrada, no meio de lugar nenhum. Quando entrei para tomar um café, quem estava lá, também tomando um café, também parando para descansar um pouco?
Vocês adivinharam: Wagner Tyso!

O católico e o muçulmano

Eu conversava com um sacerdote católico e um rapaz muçulmano durante um almoço.
Quando o garçom passava com uma bandeja, todos se serviam, menos o muçulmano, que fazia o jejum anual prescrito no Alcorão.
Quando o almoço terminou e as pessoas saíram, um dos convidados não deixou de alfinetar: “veja como os muçulmanos são fanáticos! Ainda bem que vocês     não tem nada em comum com eles”.
“Temos sim”, disse o padre. “Ele tenta servir a Deus tanto quanto eu. Apenas seguimos leis diferentes”. E concluiu: “pena que as pessoas só vejam as diferenças que as separam. Se olhassem com mais amor, enxergariam principalmente o que há de comum entre elas – e metade dos problemas do mundo seriam resolvidos”.

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