Estado que mata menos é o Piauí, com 2,6 homicídios por 100 mil mulheres
O que faz o Piauí andar na contramão dessa tendência? “O Piauí também é
machista, só que aqui o trabalho é com eficácia. Na polícia não se deve
cochilar. Não deixe a madrugada chegar, tem que ser imediato”, alerta a
delegada Vilma Alves.
Às 9h50 da manhã, a delegada recebe a denúncia. Às 10h05, ela liga para
a Polícia Militar pedindo uma guarnição: “Uma senhora foi espancada e o
marido quer matar. Ela está com medo de retornar e eu quero prendê-lo”,
avisou.
Às 10h20, um PM está na delegacia recebendo instruções. Às 11h05, a
delegada já está diante do acusado, preso, na Central de Custódia de
Teresina.
Delegada: O senhor sempre bate nela?
Acusado: Não.
Delegada: Ela disse que já não aguenta mais, não quer mais viver com o senhor. O senhor está sabendo que quando sair não vai ficar com ela, não é?
Acusado: Não.
Delegada: Ela disse que já não aguenta mais, não quer mais viver com o senhor. O senhor está sabendo que quando sair não vai ficar com ela, não é?
A pressa da delegada é a urgência do juiz. “Quando nos chega às mãos, a
gente decide no máximo em 24 horas, talvez no mesmo horário do
expediente”, afirma o juiz José Olindo Gil Barbosa.
Uma azeitada articulação entre polícia e Justiça não deixa denúncias se
acumularem. “Até em tom de brincadeira eu digo: ‘aqui no Piauí, a gente
trabalha igual a pai de santo, a gente recebe, mas também despacha’”,
diz o destaca o promotor Francisco de Jesus Lima.
Na linha de frente dessa força-tarefa, uma mulher sempre perfumada, de
brincos e colar de pérolas. “Como eu ensino as mulheres a andarem
bonitas, a se amarem em primeiro lugar, então eu procuro andar sempre
assim. Porque eu me amo”, ela garante.
Sobre a mesa de trabalho, um salto plataforma modelo Lady Gaga. E outra
mesa repleta de santos. “Os meus santos estão aí para me proteger”,
diz. O resto é com a delegada: “Eu aprendi que remédio de doido é doido e
meio. Mas dentro da educação, sem bater”, avisa.
Com educação, mas falando grosso: “Aqui é olho no olho. Eu pergunto:
‘você comprou a sua mulher no mercado velho ou no shopping?’”.
Em audiências informais, ela põe vítima e acusado lado a lado e dá
lições de boas maneiras. “Eu não sei como você foi educado. Mas você
precisa de umas pinceladas de como tratar uma mulher. Não se trata
mulher na ponta do pé”.
Não hesita em enquadrar um machão: “Como foi que começou? Olhe nos meus olhos! Como foi que começou essa droga?”.
E deixa claro que ordem judicial é para ser cumprida: “Vamos resolver a
situação. A situação é essa: ela não quer mais você. Está com um mês
que separou. Como você foi lá? Preste bem atenção: você foi preso agora.
Não tem mais direito à fiança. Porque se você voltar, você vai ser
preso e vai diretamente para a penitenciária”.
Não importa se a moça de olho roxo mora em bairro chique: “Nunca vi
isso na minha família, na família dele. Os dois têm curso superior.
Nossa família também tem curso superior. Classe média alta”, relata uma
vítima.
A delegada assegura: ninguém escapa do indiciamento: “Aqui é de tudo, político e tudo. Bateu, se faz o procedimento”, garante.
Os movimentos feministas e o Ministério Público se uniram em campanha. E
a própria delegada, professora de formação, vai aonde for preciso para
passar o seu recado.
“A mulher não é piano, mas gosta de ser tocada. Um beijinho no pescoço,
um carinho. O certo é você chegar: ‘está aqui, meu amor, minha vida,
meu perfume, minha rosa’. É assim! Quem foi que deu um cheiro na mulher
hoje?”, questiona a um grupo.
A Lei Maria da Penha é explicada ponto a ponto. “Se você estiver
achando que você é dono de sua mulher, xinga a sua mulher, espanca todo
dia, ela pode chegar na delegacia e dizer: ‘doutora, eu não quero mais,
eu quero que meu marido saia’. E ele sai em 48 horas. Eu adoro fazer
isso”, avisa.
Os maridos ouvem atentamente o alerta final: “Se você forçar é estupro.
E se ela chegar na delegacia e disser que você estuprou, eu lhe prendo,
tranquilo, meu bem”. O resultado desse esforço coletivo é a queda da
violência, mas se engana quem acha que os números do Piauí agradam a
delegada.
“Nenhum número é aceitável para mim. Nenhuma morte. Viver em paz é o
que é importante. Como se admite uma mulher ser morta pelo seu marido?
Porque a mulher não é mais coisa, não é objeto, não é propriedade.
Mulher é cidadã e deve ser respeitada”, destaca.
Confira a tabela completa com o mapa de homicídios de mulheres no Brasil
Taxas de homicídio de mulheres (em 100 mil) por unidade federativa*
POSIÇÃO UNIDADE FEDERAL TAXA
1º Espírito Santo 9,4
2º Alagoas 8,3
3º Paraná 6,3
4º Paraíba 6,0
5º Mato Grosso do Sul 6,0
6º Pará 6,0
7º Distrito Federal 5,8
8º Bahia 5,6
9º Mato Grosso 5,5
10º Pernambuco 5,4
11º Tocantins 5,1
12º Goiás 5,1
13º Roraima 5,0
14º Rondônia 4,8
15º Amapá 4,8
16º Acre 4,7
17º Sergipe 4,2
18º Rio Grande do Sul 4,1
19º Minas Gerais 3,9
20º Rio Grande do Norte 3,8
21º Ceará 3,7
22º Amazonas 3,7
23º Santa Catarina 3,6
24º Maranhão 3,4
25º Rio de Janeiro 3,2
26º São Paulo 3,1
27º Piauí 2,6
1º Espírito Santo 9,4
2º Alagoas 8,3
3º Paraná 6,3
4º Paraíba 6,0
5º Mato Grosso do Sul 6,0
6º Pará 6,0
7º Distrito Federal 5,8
8º Bahia 5,6
9º Mato Grosso 5,5
10º Pernambuco 5,4
11º Tocantins 5,1
12º Goiás 5,1
13º Roraima 5,0
14º Rondônia 4,8
15º Amapá 4,8
16º Acre 4,7
17º Sergipe 4,2
18º Rio Grande do Sul 4,1
19º Minas Gerais 3,9
20º Rio Grande do Norte 3,8
21º Ceará 3,7
22º Amazonas 3,7
23º Santa Catarina 3,6
24º Maranhão 3,4
25º Rio de Janeiro 3,2
26º São Paulo 3,1
27º Piauí 2,6
Fonte: SIM/SVS/MS *2010: dados preliminares
Fonte: 180 graus
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