“A 20 de setembro [...] de 1891, transportou-se de Alto Longá para
os Altos o Capm. Francisco Raulino da Silva, estabelecendo-se com a
primeira loja de fazendas nacionaes e extrangeiras e outras mercadorias,
extendendo o seu commercio em compras de gênero de exportação, no que
foi imitado por outros, vindos depois, e lhe abriram competencia
commercial.”
(Dr. Alfredo Gentil de Albuquerque Rosa, em 16.12.1922)
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Neste mês
de setembro de 2011 faz 120 anos da chegada ao território - que depois se
constituiria na cidade de Altos - de uma das personalidades mais influentes nos
campos econômico, político e social: o Capitão Francisco Raulino da Silva.
Provinha ele da vizinha vila de Humildes, hoje Alto Longá, onde igualmente prestou larga folha de serviços àquela comunidade. Possuía aguçado tino para a política e o comércio. Era de uma força indomável quando se direcionava na conquista de algum ideal.Tinha a patente de Capitão da Guarda Civil Nacional, título concedido pelo governo republicano, que dava ao seu portador prestígio e influência política na comunidade.Origem, primeiro casamento e descendência
Francisco Raulino da Silva era natural da vila cearense de Tauá, onde
nasceu a 31 de maio de 1848. Foi casado em duas núpcias, sendo a primeira com
Damiana Mendes da Silva, natural de Alto Longá, local onde viveram por longos
anos e onde nosso personagem enviuvou no ano de 1870. Da união nasceu uma única
filha: Damiana Raulino da Silva, falecida em 1902.
É dessa união que descende outro importante segmento da família Raulino,
do qual provém o Coronel Gervásio Raulino da Silva Costa (1895-1986), seu neto;
empresário e político, proprietário da GECOSA, ex-Prefeito de Barras
(1925-1928; 1930-1931), onde foi também presidente do Conselho Municipal
(Câmara de Vereadores); seu filho Gervásio Costa Filho, bisneto do Capitão
Francisco Raulino, foi prefeito de União-PI (1993-1996); Ezequias Gonçalves
Costa (1919-2005), seu bisneto, advogado, industrial e político, Vereador em
Miguel Alves, Deputado Estadual (1951-1958) e Deputado Federal (1963-1971);
Nelson Nery Costa, seu trisneto, advogado, jurista, escritor, Defensor Público
na Procuradoria Geral do Estado do Piauí, ex-presidente da OAB-PI e professor
da Universidade Federal do Piauí; João Henrique de Almeida Sousa, advogado,
escritor e político, foi Secretário de Governo (1987-1988), Secretário de
Cultura (1988) e Secretário de Educação do Piauí 1988-1990), Deputado Federal
(1991-1995; 1995-1999; 1999-2003) e Ministro dos Transportes, Secretário de
Governo da Prefeitura de Teresina.
Funções públicas em Alto Longá
Ainda em Alto Longá, Francisco Raulino da Silva exerceu importantes
funções públicas: Inspetor Literário da Província do Piauí, nomeado por ato de
05.12.1880; Conselheiro (Vereador), ocupando a presidência e sendo Procurador
da Câmara; e membro da Comissão de Socorros, entidade que atendia os flagelados
da seca. Foi também comerciante.
Segundo casamento e descendência
Sua segunda união ocorreu ainda em Alto Longá, com Ana Francisca da
Silva, nascida em 1855. Era filha de Francisco Freire da Silva e Ana Cordolina
de Sousa. Donana Raulino, como era conhecida, faleceu às 09:00 h da manhã do
dia 26 de fevereiro de 1935, de nefrite crônica, após receber assistência
médica. Foi sepultada na mesma data no cemitério público de Altos, conforme
declaração prestada por seu filho, Coronel Ludgero Raulino da Silva e as
testemunhas Roberto Alves da Costa e José dos Santos e Silva, que afirmaram no
mesmo assento de óbito ser a mesma alva, piauiense e doméstica.
Do enlace do Capitão com Donana nasceu o filho Ludgero Raulino da Silva
(26.03.1875-29.11.1954). Este chegou em Altos com 16 anos e 5 meses, acompanhado
dos pais, auxiliando-os nas atividades comerciais no então povoado de São José
dos Altos de João de Paiva. Com a criação da Agência Postal Telegráfica, em
1896, foi nomeado administrador, tornando-se seu primeiro agente. Foi Inspetor
de Ensino (1904) e Juiz Distrital de Altos (1922).
Devido ao prestígio e à influência social na cidade, tornou-se um
poderoso líder político, herança que deixou aos descendentes. Casou-se, por
volta de 1899, com Honorina Vasconcelos Raulino, com quem teve os seguintes filhos:
Ana Rosa (1900-1965), Francisco (1901-1975), Laudelina (1902-1970), Mário
(1904-1964), Laurindo (1907-1985), Clóvis (1909-1939) e Adail Raulino.
De sua numerosa descendência, muitos alcançaram projeção política e
social, desempenhando importantes funções públicas:
- Ana Rosa Raulino de Vasconcelos foi professora da Escola Mista
de Altos (1922);
- Francisco Raulino foi comerciante e político; quatro vezes Prefeito
Municipal de Altos (01.01.1929-04.10.1930; 17.11.1945-08.04.1946;
21.04.1948-31.01.1951; 31.01.1959-31.01.1963).
Dentre seus filhos, destacam-se: Washington Francisco Raulino,
advogado e escritor; Ludgero Raulino da Silva Neto Raulino, médico, Professor
de Farmacologia na UFPI, Deputado Federal (1979-1983; 1983-1987) e Secretário
do Trabalho e Ação Social do Piauí (1978); Roberto Couto Raulino, Deputado
Estadual por 04 legislaturas (1963-1967; 1967-1971; 1971-1975; 1975-1979).
- Mário Raulino foi Juiz Distrital e Deputado Estadual do Piauí
(28.04.1947-31.01.1951). Dois de seus filhos foram prefeitos de Altos: Felipe
José Mendes Raulino, o Felipão (03.02.1977-31.12.1982) e Elvira Mendes Raulino
de Oliveira (01.01.2001-31.12.2004); seu filho José Raulino foi Capitão do
Exército Brasileiro; Mário Raulino Filho foi Secretário Municipal de Saúde de
Altos, é médico e professor universitário.
- Laurindo Raulino foi professor,
literato, intelectual e magistrado; membro-fundador do Cenáculo Piauiense de
Letras (1927), Juiz de Direito em Altos, Piripiri, São Miguel do Tapuio e
Teresina; Corregedor de Justiça do Piauí. Destacam-se entre seus filhos:
Laurindo Raulino Filho, médico, anestesista e proprietário da SAER; Láurence
Ferro Gomes Raulino, advogado, procurador do INSS-SP; e Paulo Vinícius Ferro
Gomes Raulino, engenheiro civil.
- Adail Raulino foi um dos pioneiros de Brasília, onde manteve atividade
comercial.
Participação nos melhoramentos do povoado
Ao chegar a Altos, em 20 de setembro de 1891, Francisco Raulino da Silva comprou de João de Paiva Oliveira lotes de terra onde hoje se localiza o centro da cidade. Estabeleceu-se com o primeiro comércio, uma loja de tecidos nacionais e estrangeiros e outras mercadorias, iniciando também a exportação de peles, cera de carnaúba e algodão.
Ao chegar a Altos, em 20 de setembro de 1891, Francisco Raulino da Silva comprou de João de Paiva Oliveira lotes de terra onde hoje se localiza o centro da cidade. Estabeleceu-se com o primeiro comércio, uma loja de tecidos nacionais e estrangeiros e outras mercadorias, iniciando também a exportação de peles, cera de carnaúba e algodão.
Em 1892, construiu a primeira casa de telhas do lugar, que contava
à época apenas com nove casas, todas cobertas de palha. Esta residência, ainda
existente, é aquela que integra também a Drogaria São Francisco (Farmácia da
Fransquinha), onde sua esposa Donana também manteve por longos anos uma botica.
Na casa, localizada na Avenida Francisco Raulino, 1781, atualmente reside a
professora aposentada Honorina Couto Raulino Soares (Naná), bisneta de
Francisco Raulino da Silva.
O Cônego Honório José Saraiva, Vigário Geral Forense da Paróquia
de Nossa Senhora do Amparo, de Teresina, de 1883 a 1903, muito fez pelo povoado
no início de sua formação. Contando com a ajuda da população, principalmente de
João de Paiva Oliveira e Francisco Raulino da Silva, levantou em 1891 a
primeira capela de São José.
Em 1892 o Capitão Francisco Raulino consegue do governo do estado
a instalação da Coletoria Estadual em Altos, destinada à arrecadação de
tributos para o Estado. Em janeiro do ano seguinte, usando de seu prestígio
junto ao Governador Capitão Coriolano de Carvalho e Silva, obtém a vinda do
primeiro destacamento policial para a povoação. É do mesmo governador que ele
vai conseguir em 1894 uma verba de nove contos de réis, encarregando-se de
mandar perfurar um poço público e a construção de um açude para abastecer a
população. O açude foi feito sob a orientação do engenheiro Tenente-Coronel
Manoel da Costa Teixeira.
Funções públicas em Altos
No ano de 1893, por portaria de 04 de janeiro, assinada pelo Governador Coriolano
de Carvalho e Silva, é feita a nomeação do cidadão Francisco Raulino da Silva,
para o cargo de Coletor das Rendas Estaduais em Altos.
Em 24 de agosto de 1894 é nomeado Inspetor de Ensino, em ato
assinado pelo mesmo Governador, de acordo como livro de Portarias 351, n°11, de
Cartas e Títulos. Eis, na íntegra, sua portaria de nomeação:
“O Governador do Estado, sob proposta do Dr. Director Geral Interino da
Instrucção Pública, nomeia o cidadão Francisco Raulino da Silva para o lugar de
Inspector do Ensino da povoação dos Altos.
Communique-se.
Palácio do Governo do Estado do Piauhy. Theresina, 24 de agosto de
1894.Coriolano de Carvalho e Silva.”
Atividade política
Homem de aguçada inteligência e inclinado para a política, passou a exercer
importância na vida social do antigo povoado de São José dos Altos. Logo de
início, passou a disputar território político com João de Paiva Oliveira, o
primeiro desbravador e fundador da cidade.No texto Genealogia dos Costas, uma
carta sem data deixada a seus filhos por Gervásio Raulino da Silva Costa,
contando suas origens e sua saga, e publicada nas páginas 61 a 66 do livro
Ezequias Gonçalves Costa: 85 anos de uma vida digna, editado em segunda edição
no ano 2005, o Coronel Gervásio dá o seguinte depoimento sobre seu avô
materno:
Francisco Raulino em política militou sempre nas fileiras do Partido
Liberal, chefiando algumas vezes e sempre muito conceituado pelos chefes da
Capital. Na República, porém, foi um revoltado, devido a ação de Governos arbitrários,
tendo por isso lhe sido dado a alcunha de Vulcão pelo saudoso político e
parlamentar Anísio de Abreu; por essa razão passou a militar no Partido
Democrata, chefiado pelo Barão de Castelo Branco, Clodoaldo Freitas e outros,
até a dissolução [do mesmo], recolhendo-se depois à vida privada, cuidando
exclusivamente de seu comércio até sua morte em 1905. (COSTA, 2005, p. 66).
Ferrenho opositor e crítico do governo da época, o Capitão Raulino
foi vítima em 1900 da famigerada Comissão de Verificação dos Poderes, organismo
criado pelo governo federal para vencer sempre nos pleitos eleitorais,
fortalecendo a política dos governadores. O objetivo desta comissão era fazer a
“degola”, após examinar as atas das eleições, dos candidatos oposicionistas que
tivessem vencido as eleições.
Julgando-se eleito Deputado Estadual para a legislatura de 1900 a 1904,
juntamente com Antônio Costa Araújo, Firmino de Sousa Martins, Inocêncio de
Arêa Leão, João José Batista, José Antônio de Santana, José de Lobão Portela, José
Liberato Pereira de Araújo, José Luís Pereira, José Melins da Silveira Rios,
Manoel Lopes Correia Lima, Raimundo Nonato da Cunha, Silvínio C. de B.
Fontenele e Trasíbulo de Carvalho e Silva organizou um violento protesto no dia
01 de junho de 1900 contra o governador Raimundo Arthur de Vasconcelos, que os
impedia de tomar posse naquela terceira legislatura republicana. Não teve
jeito; nenhum deles assumiu o mandato legislativo.
Trágico fim
O que se sabe depois é que nosso personagem entrou em uma disputa
comercial no ramo de fiação de tecidos com José de Almendra Freitas, da vila de
Livramento, hoje José de Freitas. O produto sofrera uma enorme desvalorização,
com a queda de preço, dada à sua grande oferta no mercado estadual e nacional,
porquanto muitos já se dedicavam ao cultivo em larga escala.
Tendo perdido a concorrência, já com a desilusão política e
antevendo uma possível ruína financeira, um dia o Capitão Raulino adentrou em
seu quarto e num lance de desespero cometeu suicídio, disparando contra o
próprio ouvido no ano de 1905.
Está sepultado no mausoléu da família, no cemitério São José de
nossa cidade, sem nenhuma placa ou inscrição que lhe identifique ou destaque a
memória.
Personagem de livros da historiografia piauiense e altoense
Além da obra anteriormente mencionada, figura como verbete no Dicionário
enciclopédico piauiense ilustrado: 1549-2003, de Wilson Carvalho Gonçalves, e é
citado, dentre outros, no livro O poder legislativo do Piauí: síntese
histórica, de A. Tito Filho, publicado em 1980, além de alguns compêndios da
historiografia altoense, como Altos, passado e presente, de Toni Rodrigues
(1992), Cotidiano & memória, de Chiquinho Cazuza (1995), Câmara Municipal
de Altos: memória histórica (2004) e Na fé da minha Paróquia, ambos de Carlos
Alberto Dias, autor deste artigo.
Homenagem póstuma
Seu nome foi dado à principal artéria da cidade: Avenida Francisco
Raulino. Depois nomeada de Avenida Getúlio Vargas na década de 1930, readquiriu
em fins dos anos 40 a antiga denominação, por proposição do vereador Athayde da
Cunha Mendes, que lhe fez inspirado louvor na sessão da Câmara Municipal de
Altos em 31 de maio de 1948, ocasião em que o Capitão Raulino completava seu
primeiro centenário de nascimento.
Por Carlos Dias, professor e pesquisador
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